Pesquisar

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Apertem os cintos, os pilotos sumiram!

Setor aéreo pode sofrer colapso com falta de profissionais. Câmara dos Deputados quer alterar Lei para permitir contração de estrangeiros para atuar no Brasil.

Há tempos o país enfrenta dificuldades para recrutar pilotos de aviões comerciais, devido ao número reduzido de pessoas que se profissionalizam para exercer esta tarefa, apesar do país estar entre os três melhores em formação profissional na área. Com o crescimento projetado para o turismo do Brasil, que irá sediar uma Copa do Mundo e uma Olimpíada, o setor aéreo tende a entrar em colapso.

Dados da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) revelam que, entre 2007 e 2009, a média de licenciamento de novos pilotos comerciais de linhas aéreas foi de 373 profissionais por ano. Esse número não é suficiente para atender a demanda das companhias aéreas.

Para se ter uma ideia, as principais empresas brasileiras do setor, juntas, absorvem 70% desse total, considerando o número de aviões que elas compram a cada ano. Os outros 30% preferem consolidar a carreira em outros continentes como Ásia, África e Europa, onde as condições de trabalho são bem melhores. Os benefícios de trabalhar longe do seu país de origem também buscam compensar a mudança muitas vezes radical: moradia de alto padrão, educação diferenciada para as crianças em escolas com mais de um idioma, salário em moeda forte e a chance de poder absorver uma nova cultura, conhecer novos lugares e outros países.

Segundo o comandante Matheus Denófrio, instrutor e diretor da escola da aviação civil Academia do Ar, a cada nova aeronave adquirida, é necessária a contratação de, no mínimo de 12 pilotos, para que se formem seis duplas por aeronave, entre piloto e copiloto. “Isso é necessário porque ambas as categorias profissionais têm limites de horas para voar já que a legislação brasileira determina que a jornada dos funcionários a bordo não ultrapasse 85 horas no mês e 230 em um trimestre”, afirma.
 Denófrio releva ainda que outro fator que dificulta o recrutamento de pilotos é a necessidade de se ter, no mínimo, um comandante por aeronave. “Isso significa a exigência de profissionais com larga experiência e tempo de carreira, algo em escassez já que comandantes com larga experiência ou próximos da aposentadoria, têm migrado para o mercado internacional onde os salários e a jornada de trabalho são bem mais atrativas.

Se por um lado faltam pilotos, por outro, dos alunos que frequentam as escolas de instrução, apenas 30% têm desejo de seguir carreira como piloto comercial. A maioria prefere a carreira de piloto executivo, onde a pressão, o estresse e o nível de exigência são bem menores.

As empresas aéreas brasileiras, principalmente as duas maiores (GOL e TAM) estão com problemas em relação ao número insuficiente de pilotos e comissários necessários para atender às programações sempre crescentes das mesmas. A saída seria aumentar o número da tripulação para evitar um novo colapso em dezembro, quando, mais uma vez, chega o período de férias. Mas onde buscar profissionais

Mudança na Lei - De olho na falta de profissionais para o mercado da aviação comercial, a Comissão Especial da Câmara dos Deputados aprovou, no dia 23 de junho, mudanças na Lei nº 7.565, de 19 de dezembro de 1986, do Código Brasileiro de Aeronáutica (CBA).

Um dos pontos alterado foi o Art.158, de autoria do relator Deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB/PR), segundo o qual, será admitida a contratação de mão de obra estrangeira para exercerem suas funções no Brasil, como tripulantes ou instrutores, em caráter provisório, na falta de tripulantes ou instrutores brasileiros. O prazo do contrato de instrutores estrangeiros não poderá exceder a seis meses e, para tripulantes, sessenta meses. A proposta é extremamente mau vista pelos aeronautas.

As modificações do CBA apresentadas precisam ainda ser aprovadas pelo plenário da Câmara antes de seguir para o Senado, visto que foram inseridos no projeto original do Senado artigos e assuntos que não faziam parte do projeto original. Mas a votação na Câmara dos Deputados só deve ocorrer depois das eleições de outubro.

Formação - O ingresso na promissora carreira, porém, não depende apenas de boa vontade, mas de muito estudo e investimento financeiros para as aulas práticas. Para todas as categorias, o candidato a piloto deve ter 17 anos ou mais, com exceção do piloto de linha aérea, seja de avião ou helicóptero, que precisa ter 18 anos ou mais. Também é necessário ter, no mínimo, o ensino médio – com exceção do piloto privado, categoria para a qual é exigido, ao menos, o ensino fundamental. Para a formação dos pilotos, são necessárias aulas teórica e prática, de acordo com o tipo de licença ou habilitação que o aluno deseja obter.

Homologada pela Anac, a Academia do Ar, que ministra suas aulas na Unidade Guarulhos-Dutra da Universidade Guarulhos (UnG), é especializada na formação de pilotos (privados e comerciais, de avião e helicóptero) e comissários de voo. Com uma média de quatro meses de duração, o curso teórico para pilotos oferecido pela entidade ensina, entre outras questões, noções de meteorologia, regulamentos de tráfego aéreo, navegação, segurança de voo e conhecimentos técnicos de aeronaves. “Procuramos abordar conteúdos que vão ao encontro da necessidade da prática da pilotagem e do treinamento real de uma emergência para pilotos e comissários, pois a segurança de vôo está em primeiro lugar”, expõem o diretor técnico da Academia, comandante Matheus Denófrio.

Segundo ele, após as aulas teóricas, o aluno deverá prestar exame para a banca examinadora da Agência Nacional de aviação Civil (Anac). Aprovado, receberá a licença teórica (CCT) e poderá dar início às aulas práticas.

A carreira de quem aposta na area tende a crescer de forma gradual: com um mínimo de 35 horas de voo, torna-se piloto privado de avião ou helicóptero (voa por motivos particulares); com 150 horas, obtém-se habilitação para a função de piloto comercial, ou seja, pode-se exercer a profissão em qualquer área. As grandes companhias exigem um pouco mais: para se tornar comandante de linha aérea, é preciso que se adquira a chamada licença de PLA teórico.

A formação de um piloto de avião requer investimento bastante elevado. Considerando apenas as aulas práticas, para um aluno se tornar Piloto Privado – primeira etapa antes de iniciar na carreira – é preciso desembolsar por volta de R$ 14 mil e, para a formação de um Piloto Comercial – que já pode exercer a profissão – esse custo pode chegar até mais de R$ 70 mil ou mais, dependendo da dedicação de cada piloto.

A exigência e investimento financeiro não para por aqui. Além do curso teórico, do prático, das horas de voo exigidas, é necessária ainda a fluência em inglês.

O esforço, contudo, tem sua recompensa. Os salários para profissionais da área podem variar de R$ 2 500 a R$ 20 mil mensais, dependendo das horas de voo, tempo de experiência do piloto, sua área de atuação e empresa onde trabalha. Na área agrícola, geralmente o ganho se dá por safra. Por um período que dura entre seis e oito meses, o profissional pode faturar mais de R$ 50 mil.

A Academia do Ar, em parceria com a Universidade Guarulhos, lançou neste segundo semestre de 2010 a Graduação Tecnológica em Transporte Aéreo. O curso superior é modular e pode ser concluído em 2 anos. Ao término, o egresso terá um diploma universitário reconhecido pelo MEC e pela ANC, além das habilitações de Piloto, Comissário de Voo, Despachante Operacional de Voo e Gestor em Logística e Operações Aéreas. Um curso superior com estas possibilidades é único no mercado. Além disso, após a graduação ele poderá cursar pós-graduação.

Bolsa de estudo - Para viabilizar o sonho de muitos homens e mulheres que almejam ser pilotos, a ANAC disponibilizou no início do ano 213 bolsas de estudos em 19 aeroclubes do Brasil. Para disputar as vagas, os candidatos devem ter entre 18 e 35 anos, apresentar certificado de aprovação no curso teórico, documento de aprovação no exame da ANAC e comprovar já terem realizado pelo menos 25% da carga horária de voos necessária para a categoria: 9 horas para Piloto Privado e 29 horas para Piloto Comercial. As aulas acontecem em 19 aeroclubes de oito Estados (São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Ceará, Maranhão e Tocantins).

Neste ano, o projeto Jovens Pilotos para a Aviação Civil ofereceu 139 bolsas para os cursos práticos de Piloto Privado e 74 para Piloto Comercial. O processo seletivo inclui prova objetiva e Exame de Proficiência Técnica. Após essas etapas, o candidato aprovados já podem agendar as aulas práticas nos aeroclubes credenciados no projeto.

O investimento do Governo Federal nas bolsas de estudo soma R$ 3 milhões, com recursos do Programa de Desenvolvimento da Aviação Civil do Ministério da Defesa. Além das aulas práticas e do voo de cheque ao final do curso, a bolsa também inclui as despesas de hospedagem do aluno bolsista na cidade escolhida.

A Academia do Ar oferece programa de bolsas de estudos para a formação teórica de pilotos e comissários de voo. Para saber as condições e se inscrever, os interessados deverão comparecer à escola, localizada na Unidade Guarulhos-Dutra da Universidade Guarulhos (UnG). Informações: (11) 2423-7645 ou www.academiadoar.com.br.


Nenhum comentário:

Postar um comentário